Eu recebo muitos comentários do tipo “não sei como você consegue” relacionados aos cuidados com a casa e o gerenciamento de todo o resto das atividades no dia a dia. Eu já tentei diversas vezes descrever aqui no blog como nós fazemos em casa, mas essa pergunta sempre surge. Então me dei conta de que talvez esteja faltando um detalhe importante no processo todo: minhas expectativas não são altas.
Pergunte a uma pessoa que limpa a casa qual a melhor sensação de todas, e ela responderá que é a de sentar no sofá com aquele sentimento de dever cumprido, pois a casa inteira está limpinha e cheirando a lavanda. Eu também adoro essa sensação, mas vocês também já pararam para pensar que, em uma casa com muito uso de todos os cômodos, muitas pessoas morando e circulando, fazer isso é uma trabalheira danada? Quer dizer, se quisermos ter a casa limpa e brilhando todos os dias, das duas uma: 1) ou contratamos uma pessoa para fazer isso por nós ou 2) largamos o emprego e fazemos só isso. Com as crianças na escolinha, é claro.
Se você pode pagar uma pessoa para limpar a casa para você, excelente! Então você não deve ter problemas com a rotina de limpeza em casa, já que não precisa fazer mais do que lavar a louça (e, em alguns casos, nem isso). Se você não pode pagar alguém nem largar o seu emprego, então precisamos bater um papinho sobre expectativas mais realistas.
Em primeiro lugar, devemos pensar que a casa deve nos servir, e não o contrário. A casa é o nosso abrigo – onde chegamos, depois de um dia cansativo, e queremos ter um lugar aconchegante para preparar a nossa refeição, descansar, nos relacionar com as pessoas que moramos, entre outras atividades domésticas. Se você vive em função da sua casa, ficando exausto(a) diariamente e com uma sensação de culpa tremenda porque não conseguiu fazer tudo o que queria, pode ser que você esteja mirando alto demais.
Vou contar uma novidade para você: não dá para ter uma casa brilhante, limpa e cheirosa, impecável, no dia a dia, se você não estiver em nenhuma das duas situações que eu citei ali em cima. Por favor, tire essa cobrança da sua cabeça e esse peso gigantesco das suas costas. O fantasma da neura não vai vir te assombrar como naquela propaganda idiota que só faz com que as brasileiras se sintam péssimas por ter uma vida fora de casa e outras atividades além-lar.
Vocês acham que a minha casa está impecavelmente limpa neste exato momento? É claro que não. Para ajudar em todo o processo, eu tenho as minhas listinhas de tudo o que eu preciso fazer diariamente, semanalmente etc (aqui). Se eu não conseguir fazer todas as tarefas da minha lista, vou chorar? Mas é claro que não, meus amigos. Essa é a realidade. Tem dias em que eu chego em casa tarde, porque fiz hora extra no trabalho e depois ainda tive que ir ao supermercado. Não dá para fazer em um dia desses o que eu faria em um dia livre. Mas aí eu vou compensando nos dias seguintes.
A grande questão é: não posso me sentir culpada se não consegui lavar a louça antes de dormir! É o melhor a ser feito? Sim. É altamente recomendável? Sim. É muito mais difícil lavar no dia seguinte? Sim. Eu deveria ter lavado aos pouquinhos em vez de deixar acumular? Sim. Mas a realidade nos prega peças, nosso dia a dia traz imprevistos e muitas vezes não conseguimos fazer o que é ideal, recomendável, melhor, ou até mesmo o satisfatório. E isso não tem problema algum, desde que você não faça da exceção uma regra e deixe sua casa sair dos eixos e ficar inabitável. Mas acredite em mim: se você está lendo este blog e tem essa preocupação, ela nunca chegará a esse ponto, então relaxe.
E aqui já vou entrar um pouco em um ponto muito pessoal, que é o seguinte: eu não sou fanática por limpeza. Já fui, mas não sou mais – provavelmente, desde que meu filho nasceu. Porque ali eu percebi que seria impossível dar conta de tudo. Eu passei a me incomodar MUITO menos com a poeirinha na estante ou no rack da tv, por exemplo, e a limpar somente quando realmente houvesse sujeira. Aliás, por que temos essa mania de limpar o que não está sujo? Hábito, simplesmente. O brasileiro tem o hábito de limpar só porque está na rotina – porque sábado é dia de faxina. Sendo que, muitas vezes, nem precisa.
Já cansei de transferir uma tarefa da lista semanal para a lista de 15 dias, ou da lista diária para a semanal. Isso faz parte. Se eu não consigo passar aspirador todos os dias, vou passar a cada dois, ou mesmo uma vez por semana. Não é isso que vai manter a minha família alimentada, por exemplo, ou as contas pagas. Existem tarefas que são muito mais importantes e que precisam ser feitas. Eu não posso deixar de cozinhar, por exemplo, nem de organizar as minhas contas, porque senão tudo entra em colapso. Também não posso deixar de lavar a louça ou a roupa. Há coisas que simplesmente precisamos fazer. E, quando eu digo que as suas listas de limpeza, especialmente as diárias, devem conter o mínimo essencial, é justamente porque ninguém merece se tornar escravo(a) da casa e passar o tempo todo limpando. A ideia é fazer o mínimo possível e otimizar o processo justamente para você conseguir se dedicar a outras atividades mais importantes para você, nem que elas sejam simplesmente descansar e ler um livro. Minha lista diária tem menos de 10 tarefas, sendo que a maioria delas já foi feita pelo meu marido antes de eu chegar. E são todas tarefas muito simples. Eu fico mais com a parte “gerencial”, tipo separar a roupa que vamos lavar amanhã (ele só “aperta o botão” e, se não estender durante o dia, eu faço isso de noite), definir o menu semanal, a lista de compras (eu adoro cuidar disso!), separar as contas (eu centralizo os pagamentos), organizar a mochila da escola do filhote. E o que ele faz é o básico, do dia a dia mesmo, que mantém a casa ok. Meu marido faz o mínimo. A diferença é que, os dois fazendo isso, já é bastante coisa.
Por isso eu friso novamente a importância de trabalhar em equipe. Muitas leitoras me dizem que seus maridos não ajudam. Meninas, para começar, “ajudar” é o termo errado. “Ajudar” significa que o papel de limpar é seu, e ele só está dando uma mãozinha, quando puder e quiser. Não, não. Quem mora na casa deve trabalhar em equipe, e é assim que as coisas devem ser. Ainda bem que nossa realidade está mudando. Entendo que existe muito homem cabeça dura por aí, mas a maioria hoje já faz até mais coisas que a mulher em casa. Isso porque a mulher está trabalhando, fazendo cursos, tendo uma vida também, que beleza! Basicamente, tendo finalmente os direitos que os homens sempre tiveram. Então é óbvio que a carga da mulher tem que ser dividida com os bonitões. Isso não é ajuda nenhuma. É obrigação.
Mas não vamos só colocar os maridos na fogueira não: todo mundo deve ajudar! Eu sei que filhos adolescentes podem oferecer certa resistência, mas não podemos desistir. Para mães de adolescentes, eu recomendo o seguinte: não dar mole. Ensinar independência, não fazer tudo o que pedem. E, para as mães de crianças menores, eu recomendo o envolvimento desde cedo das crianças nas tarefas de casa. Não é para colocar a criança de três anos para trabalhar, longe disso! Mas deixá-la junto com os pais enquanto eles executam uma tarefa, explicar o que está fazendo, mostrando como esfrega aqui e ali, pedindo para a criança entregar as peças de roupa para pendurar no varal, essas pequenas coisas. Envolver os filhos desde o início ajuda porque eles percebem que fazem parte de tudo aquilo – não são meros expectadores. Não existe técnica para resolver essa questão 100%, mas já podemos tentar diminuir o número de “traz o refri, mãe!” que você vai ouvir daqui a alguns anos.
Em resumo, o que eu realmente gostaria de dizer com este post é que precisamos ser mais realistas com relação às atividades de manutenção da casa, especialmente no que diz respeito à limpeza. Todo mundo adora uma casa limpinha e cheirosa o tempo todo. A realidade está longe disso, dentro das condições que estamos em nossa época, ocupados como estamos. Não devemos ter expectativas dos anos 1960 em 2013. Estamos em um período de transição de comportamentos domésticos, o que é excelente! Não há regras, assim como não sabemos o que o futuro nos reserva. A tecnologia está aí para nos ajudar, trazendo cada vez mais eletrodomésticos que, daqui a pouco, farão tudo para a gente. Mas, enquanto isso não acontece, precisamos lembrar que, da mesma forma que não ficamos o dia inteiro cuidando da casa, deixando-a impecável, não podemos achar que teremos aquele mesmo resultado. Não dá.
É claro que você pode gastar o seu sábado inteiro limpando a casa e fazendo uma faxina completa, mesmo sabendo que, no domingo, alguém pode fritar um bife na cozinha e adeus limpeza. Então eu me pergunto? Vale a pena todo esse trabalho para ter a casa impecável durante apenas algumas horas? Ou é melhor fazer aos poucos as tarefas durante a semana e manter a casa em um nível simplesmente ok, mas o tempo todo?
Sei que o post é polêmico e muitas pessoas não concordarão comigo. Só sei que pensar dessa forma me tornou uma pessoa muito mais livre e descansada no dia a dia, me possibilitando a dedicação a outras tarefas que estavam de lado justamente porque eu achava que “não tinha tempo”. Talvez essa mudança de expectativas possa te ajudar também.
Via VidaOrganizada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário